quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O Inferno Cheio de Boas Intenções

           Este velho adágio assombra a humanidade numa frequência e intensidade que não pode ser ignorado. De boas intenções o inferno está cheio.

           Em termos de política e governos esta é uma grande verdade.  Vejamos alguns exemplos:

           - Direitos Humanos
           Quem a não ser um doente mental pode se posicionar contra os direitos humanos?  Mas, basta olhar para a segurança pública, os ataques em SP ou em SC, para ver que alguns conceitos precisam ser urgentemente revistos.
            A menoridade penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente são exemplos de peças cheias de boas intenções mas totalmente fora da realidade!
           Quem ao ler os livros ou ver filmes sobre o terror das prisões não chega a ficar consternado?  Alguns chegam a sentir empatia por presos, que eventualmente praticaram atrocidades ainda maiores quando do seu convívio na sociedade.   Mas, não é com indulto e visita íntima que se atinge o objetivo de humanização.  É preciso parar para se pensar!
            E na hora de pensar não podemos ouvir a opinião de advogados a este respeito. Hoje, por exemplo, me deparei no jornal O Estado de SP com um artigo defendendo o "inalienável" direito de um advogado não questionar a origem do dinheiro que lho paga.  Ou seja, ao contrário de todos os cidadãos sujeitos às Leis contra a Lavagem de Dinheiro, a entidade que congrega os advogados, acha que eles devem ser impunes, pois caso contrário cerceariam o direito de defesa de seus clientes. Só para constar, para clientes que não tem dinheiro há a defensoria pública !!!
         
           - Lei Seca
            Há alguém a favor de bêbados dirigindo ?    Claro que não !  Contudo, esta lei é uma subversão a lógica que reprime o bom cidadão, que talvez quisesse tomar uma ou duas taças de vinho durante o jantar com sua esposa ou namorada e não pode mais.  De outro lado, pouco piorou para quem de fato causa a morte de alguém no trânsito.
            Comemoram-se a queda dos acidentes no carnaval.  Só não contam que triplicaram a fiscalização nas estradas.  Será que sem uma nova Lei Seca e com a mesma fiscalização o efeito não seria o mesmo?  Engraçado o que R$ 1.900 de multa é capaz de fazer.  Foram mais de R$ 2 milhões aplicados em multas neste carnaval, devido a Lei Seca.  Mas, qual a estatística de presos foragidos capturados durante o Natal? Quantas armas foram apreendidas com motoristas ?
            A falsidade fica clara quando andamos no trânsito e vemos dezenas de carros irregulares todos os dias e nada é feito.  Claro, carros com insulfim fora do padrão geram uma multa baixa e dão muito mais trabalho do que só fazer um incauto soprar o bafômetro...  Isso para não falar em outras irregularidades.

           - Renegociação das Dívidas dos Estados e Municípios com a União
           Os juros das dívidas dos Estados e Municípios para com a União são exorbitantes face a nova realidade brasileira.  Por outro lado, se não me engano, um dos mais destacados funcionários do Ministério da Fazenda, disse que a principal contribuição para a queda no superávit primário veio dos Estados e Municípios...  Logo, renegociar as dívidas neste momento, cuja consequência é a melhora na capacidade financeira dos Estados e Municípios, dificultará novamente o atingimento da meta de superávit primário deste ano.
           Neste caso, não sei se é caso de "inferno", mas certamente a medida que é positiva, não ajuda no cumprimento das metas.

           --------------------------------     x    ---------------------------
          Em síntese, toda e qualquer medida não pode ser julgada pelo seu efeito mais óbvio, é preciso considerar todas as externalidades ou efeitos colaterais, sob pena de ser mais uma boa intenção que nos leva ao inferno, tais quais àquelas que não canso de citar: juros baixos, câmbio desvalorizado, desonerações e subsídios, cotas, etc...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Hora de Juntar as Cinzas

         O Brasil é um país sui generis.  Aqui temos dois inícios de ano. Um internacional e outro nacional.

          Sendo eu um otimista, vejo isto como uma grande vantagem.   Se o início do ano gregoriano não foi muito bom, temos a chance de recomeçar no carnaval, o ano novo brasileiro.

           Terminamos 2012 com um "pibinho" e adentramos 2013 com sinais confusos de política econômica. Entre acertos contábeis, inflação em elevação e uma novo política cambial, já não sabemos mais em que apostar.

            Dizem que certa vez Keynes teria sido perguntado por que ele mudara de opinião e ele teria respondido algo como: "Quando estou errado mudo de opinião, você não?"     Nada mais nobre que reconhecer um erro e mudar de opinião, assim, mudanças na política econômica não podem ser criticadas apenas por serem mudanças, mas...

               -------------------           x            --------------------
               Mudando de opinião sobre o Câmbio

         Os poucos leitores habituais de meu blog hão de se lembrar o quanto eu critiquei a política de desvalorização do real.   Entendia que para ela funcionar precisava redundar em queda na renda interna,  caso contrário teríamos uma desvalorização nominal e não real, sem efeitos sobre a competitividade e ou sobre os saldos da balança comercial.  Pior ainda, os efeitos defasados da política refletiriam inicialmente negativamente sobre os investimentos, dado o encarecimento dos bens de capitais (importantes na nossa pauta de importações),  causando no curto prazo redução no crescimento.

         Se a inflação fosse contida durante o processo de desvalorização, alguns ganhos na atividade econômica seriam observados no longo prazo.  Entretanto, seria difícil prever qual a taxa de câmbio necessária para que as perdas necessárias na renda real  e no consumo interno fossem compensadas pela melhora na balança comercial.

          Se partimos de uma taxa de câmbio de R$ 1,80/US$, e  considerando uma inflação de 6%, em um ano, em termos reais, teríamos que R$ 1,90 / US$ seria equivalente.   Ou seja, R$ 1,90 hoje teriam o mesmo poder de compra de R$ 1,80, um ano antes.      O objetivo desta matemática confusa é mostrar que todo o esforço para puxar a taxa de câmbio (desvalorizar o real) está indo por água abaixo por causa da inflação, como esperado, e agora pela reversão da política cambial.

           Como um ingrediente a mais temos a confusão causada nos agentes.  Antes, haviam sinalizações de que a taxa de câmbio desejada pelos policy makers era mais elevada, agora parece que a taxa desejada é por volta de R$ 2, ou um pouco mais baixa.   

            Nada de errado em mudar de opinião, mas é preciso compreender que os investimentos são decididos com expectativas de longo prazo.  A formação de expectativas é resultado do conjunto de políticas adotas pelo governo.  Se há confusão ou falta de compreensão por parte dos investidores à respeito da política econômica há um adiamento dos investimentos, e o "pibão" de novo ficará para outros carnavais.


                        -------------------           x            --------------------
                         Mudando de opinião sobre os Juros

           Há alguns sinais de que o Banco Central não está feliz com a inflação no curto prazo e já são comuns textos que sinalizam uma preocupação com a própria credibilidade do Banco Central.

           Quando o Governo Dilma tomou posse houve uma sinalização clara e muito positiva de mudança no mix de política econômica.  O controle da demanda seria feito muito mais por uma queda no déficit fiscal (ou aumento no superávit primário, como preferirem), tirando o peso da política monetária abrindo-se espaço para a prática de taxas de juros muito menores.    Contribuiria para isso, os níveis baixos das taxas de juros no mundo.  

           Aplausos merecidos.  

           Entretanto, como já se tornou hábito, deixaram de dar a enfase necessária para se explicar os novos rumos.  Em seus comunicados o Bacen creditou as reduções nos juros às pressões deflacionárias no globo. Eu, mal humorado que sou, os criticava já que não é, em minha opinião, papel do Banco Central determinar sua política monetária apenas com base nos preços de commodities, que são voláteis por excelência.    O resultado é que embora a direção da política fosse correta vários economistas  começaram a duvidar da capacidade do COPOM levar a inflação para o centro da meta.

          Ficou mais confuso quando decidiu-se agir também sobre a taxa de câmbio. Está na bíblia: não dá para servir a dois senhores ao mesmo tempo !!    Política monetária menos restritiva e desvalorização cambial são duas coisas que quando combinadas tem um efeito claro: inflação.    Para sorte de todos, a inflação ficou comedida, ou esquecida, pois graças ao cenário recessivo no hemisfério norte os preços em dólares e mesmo das commodities caíram.    

            Vi vários "apoiadores" da política econômica comemorarem o fato de terem provado que juros altos no Brasil eram uma balela.  Não eram.  Não são.   

            Os juros no Brasil eram e ainda são excessivamente altos, mas não é uma questão que se resolva com puro voluntarismo. 

             Voltando para a inflação... A aposta nos preços internacionais baixos que garantiriam a inflação baixa, apesar da reversão na política fiscal (anticíclica), deu "água".  A quebra na safra americana de grãos fez a inflação dos alimentos subir.  E agora, a inflação volta a flertar com o teto da meta, contida apenas por medidas pontuais de desoneração, subsídios e de adiamentos de reajustes.

             O que o Banco Central não entendeu, tal qual vários economistas, é que a variação de um índice de preços não determina se há inflação ou não. É preciso olhar além.  O que fizermos, durante o período de calmaria, foi regar o germe (gérmen) da inflação, que brotaria com toda certeza.

             Agora é preciso correr atrás e o custo vai ser mais elevado.  Mas, nunca é tarde para se assumir um erro.   Apesar disto, é importante dizer que as "taxas de juros" não são o único instrumento de política monetária.  

            Existem basicamente 3 instrumentos de política monetária : Taxas de Juros, Compulsórios e Contingenciamento do Crédito.    Grosso modo, os três instrumentos agem da mesma forma, regulando a oferta de moeda na economia.

            O que assusta é que ao mesmo tempo que lemos no jornal sobre as preocupações do BC com a inflação e a sua credibilidade, lemos sobre a ação do governo para a expansão do crédito.   Isto não vai dar certo, pois os dois objetivos são incompatíveis.   

             Temos um potencial dilema: o Banco Central não quer subir o juros e quer conter a inflação e o governo quer que o crédito se expanda !!!    Não vai dar certo !   Se no limite, o governo consiga a expansão no crédito o BC teria que subir os juros para conseguir conter a inflação.  É confuso. Vai acabar mal.

             A política monetária mais plausível, não comporta aumento nos juros, nem no crédito.  O razoável é justamente o contrário, o crédito ao consumo deveria ser contido.  A sinalização anterior do BC, de que antes dos juros ele adotaria medidas"macroprudenciais" (compulsório e restrições ao crédito) era neste sentido.  E é minha aposta do que por fim há de acontecer.  

              A tentativa de mirar múltiplos alvos leva à múltiplos erros.

               -------------------           x            --------------------
               Juntando as Cinzas

               Levando em consideração o momento propicio para uma reavaliação da política econômica, tenho 2 sugestões.

               1a) Deve-se definir claramente os objetivos da política econômica, entendendo que algumas vezes eles se opõem.  Tal problema, só pode ser resolvido com a definição de prioridades e atacando um objetivo por vez, sob pena de se gastar toda munição sem atingir nenhum alvo.

                2a) Simplifique.  Mais fácil desonerar todos, eg. acabando com a Cofins do que desonerar aquele   ou este setor, criando ainda mais regras fiscais.

                Por fim, uma recomendação genérica: É IMPORTANTE INVESTIR NUMA COMUNICAÇÃO CLARA E OBJETIVA !
               

           

           

         

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Carnaval da Pobreza !

      A uns 2 anos atrás, em minha antiga página no facebook,  criei um evento cujo tema era "não quero estádio, quero prisão".  Alguns corinthianos, inclusive amigos meus, acharam que eu estava menosprezando a importância do Corinthians.    Não era o caso.  O que eu queria fazer é mostrar o quão esdrúxulo é o setor público, direta ou indiretamente, bancar um estádio de R$ 1 bilhão seja lá para que clube for enquanto existem demandas sociais ainda mais importantes.

      Com um indivíduo, que ficou mais ofendido com minha proposta, tive uma discussão mais aguerrida, pois ele entendeu que o fato de eu achar "prisão" melhor que "estádio" era uma brincadeira de mau gosto com os esteriótipos atribuídos aos seus irmãos de time.  Expliquei que minha escolha por prisão era pela simples razão que naquele momento começava uma nova escalada do crime em SP e aquela me parecia a prioridade no momento.  Mas, o que eu queria acima de tudo é deixar claro que todo o dinheiro que o setor público gasta com "estádios" ele deixa de gastar não só com segurança, mas também deixa de investir em saúde e educação.  

     O ex-prefeito, que felizmente já seguiu em frente com sua carreira política, na mesma época propunha a cessão de terrenos públicos em troca de construção de creches.  Ora, se faltava dinheiro público para construir creche por que dar uma subvenção de R$ 400 milhões para construir um estádio?  Quantas creches poderiam ser construídas com este valor?

      Hoje, lendo notícias na internet, deparei-me com a seguinte informação: O Carnaval 2013 de São Paulo vai custar R$ 33,9 milhões aos cofres públicos da prefeitura, o que coloca a cidade em segundo lugar no ranking de gastos entre as capitais.

      Não posso deixar de pensar como o meu dinheiro de contribuinte está sendo mal gasto, tendo como desculpa a velha ladainha de que isto atrai turistas para São Paulo...  Se o evento é tão grande e importante e conta com a cobertura da mídia e existem patrocinadores não há a necessidade de dinheiro público e os turistas (poucos) virão do mesmo jeito !!!    Volto a me perguntar, quantas creches consigo construir com R$ 34 milhões.  

       Carros alegóricos são bonitos. Eu gosto de vê-los.   Mas, qual é o "legado" que ele nos deixa?

       Já passou a hora dos políticos abandonarem o "pão e o circo" e começarem a investir nosso dinheiro de maneira mais proveitosa !!!


Game de Política Monetária: recomendação para Saint of Paul Oco


      Como é sabido a política econômica em Saint of Paul Oco era gerenciada de forma voluntarista. Difícil dizer o que era pior.  Pena que na época de Saint of Paul Oco não existia o Game: http://www.frbsf.org/education/activities/chairman/

       Um conselho que eu teria dado ao presidente do Banco Central de Saint of Paul Oco, afora o óbvio "muito faz quem não atrapalha" era ele ficar brincando com este joguinho.  Assim, ele não teria contribuído para o desaparecimento da lendária terra, que todos sabem chafurdou na M...  E, de quebra, brincando, talvez aprendesse um  pouco !!


Inflação

     Ontem foi divulgado o IPCA de janeiro/2013 que apresentou uma variação de 0,86%.  A notícia mais que esperada, afinal a mais de um mês o mercado esperava que a inflação ficaria acima de 0,80%, causou furor.  Para completar a declaração da autoridade monetária de que o patamar da inflação não é confortável  fez as taxas de juros futuros dispararem, contribuindo para os movimentos de baixa na bolsa e no dólar.

       Eu, apesar de meus mais de 20 anos em mesas de operação, não consigo deixar de achar graça na tragédia...   Por dever de ofício leio todos os documentos do Banco Central relacionados às metas de inflação.  Assim, sempre acreditei que certas manifestações deveriam ser guardadas para serem feitas através destes documentos, principalmente no Relatório de Inflação, nos Comunicados e Atas das reuniões do COPOM.   Isso diminuíra e bem o ruído.

         Enfim, tenho repetidamente falado que o maior defeito da política econômica no Brasil é a comunicação !

        O que mais me admira é a reação dos mercados à algo mais do que esperado, já que o número divulgado do IPCA ficou dentro das expectativas.  Mas, por mais interessantes que sejam as reações elas são pouco importantes, pois o que importa são os fundamentos !

            Falando em fundamentos acho importante fazer uma diferença clara entre "processo inflacionário" e alta no índice de preços, que muitas vezes são tidos por sinônimo.  Embora extremamente relacionados, uma coisa e não tem nada a ver com a outra. Vamos a um exemplo de padaria.

              Suponhamos que existam 5 produtos na economia e que são vendidos na padaria do seu Matsunaga: pão, óleo, leite, refrigerantes e cigarros.  E que em dado momento o preço de cada um deles era de R$ 1.  Supondo pesos iguais e constantes, podemos dizer que o IPPM (índice de preços da padaria do Matsunaga) era de 5 (igual a somatória do preço de cada produto).   Suponhamos que, certo dia, o ministro da fazenda, decidiu estabelecer um imposto de 100% sobre o cigarro, logo o preço do cigarro subiria para R$ 2.  E o IPPM para 6 (1+1+1+1+2), apresentando uma variação de 20% !     Isto não é um processo inflacionário é apenas uma alteração em um preço devido a um fator específico.

                 De forma inversa, vamos supor que todos os outros produtos tenham seus preços elevados para 1,25.  O IPPM  subiria para 7 (1,25 X 4 +2), apresentando uma variação de 16,66% (7/6-1).  Isto é inflação.  Agora, por hipótese, imaginemos que um astuto governante, para segurar a "inflação", decida desonerar o cigarro, fazendo que seu preço volte para R$1.  Então o IPPM continuaria em 6 (1,25 X 4 +1), apresentando uma variação de 0%.  Acabou a inflação ?   Não !!

               O objetivo deste exemplo é ressaltar a importância de se olhar a inflação como um processo que é marcado pela alta generalizada de preços e que necessariamente tem um cunho monetário.  O fato de um índice de preços apresentar uma variação mais alta ou mais baixa em determinado momento é pouco relevante, já que preços podem ser afetados por fatores externos (eg. quebra da safra americana de grãos, guerras no golfo pérsico, etc.).   O que a autoridade monetária e os economistas devem fazer é observar a dinâmica.


         No gráfico acima, vemos a evolução do índice de difusão do IPCA,  Este índice indica qual o percentual de produtos da cesta que apresentou alta.  Vemos que, em janeiro de 2013, aproximadamente 75% dos produtos que compõem o IPCA apresentaram elevação de preços.  É fácil observar que este é um dos piores resultados desde o início do sistema de Metas de Inflação, só superado pelo período no final de 2002, quando o dólar chegou a bater R$ 4.     

            Outro destaque no gráfico é que o índice de difusão está em clara tendência de alta, o que pode ser percebido pela sua média móvel de 12 meses (linha preta).

             Tudo isso para dizer, que a manifesta preocupação parece tardia e que medidas paliativas de desoneração reduzem a variação nos índices de preços mas não combatem o processo inflacionário.
               Olhando o gráfico acima, onde temos a variação acumulada em 12 meses do IPCA (em preto) e de alguns grupos de produtos vemos claramente que: o que contribui para conter a inflação, desde 2010 foram os preços administrados (controlados pelo governo) e os bens tradeables (aqueles que tem seu preço determinado pelos mercados globais).  No lado superior do gráfico vemos que os grupos que mais contribuíram para a inflação foram os "serviços" e os "nontradeables", que são aqueles produtos cujos preços não dependem do mercado internacional.  Apenas, para não me acusarem de tendencioso, os serviços compõem a maior parte dos nontradeables.

                 A conclusão clara é que a variação nos preços no Brasil foi contida apenas pelo desaquecimento global e pelas determinações governamentais.   Para mim, isto tem cara de processo inflacionário.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Função de Satisfação dos Governantes de Saint of Paul Oco

          Uma das questões mais intrigantes aos estudiosos da lenda  é o que movia os governantes de Saint of Paul Oco em sua preferência por políticas "complexas".

         No intenso debate sobre a questão, na qual participam alguns economistas, levantou-se a questão da função utilidade dos políticos. Para facilitar, alguns antropólogos preferiram trocar o termo função utilidade por "Função de Satisfação".   Esta função, representada numa tabela,  enumera diversos objetivos e a suposta satisfação (ou prazer) obtido pelos políticos ao atingi-los.    A ideia era simples, a partir de uma engenharia reversa, isto é, das medidas adotadas pelo governo, eles tentariam descobrir quais os objetivos dos governantes de Saint of Paul Oco.

         A aparentemente simples tarefa era, na verdade, bastante complexa. A seguir vou relatar apenas algumas especulações feitas a partir do brain storm dos estudiosos.

        Inicialmente, tentaram simplificar os possíveis objetivos pessoais dos governantes ou políticos.  Após muita discussão conseguiram reduzi-los a 3: 

        - Enriquecimento;
        - Notoriedade;
        - Altruísmo.

        O primeiro objetivo é óbvio. Tudo mundo quer ter mais dinheiro.  Neste sentido, para determinar a função satisfação, o importante era determinar qual a importância ou grau de satisfação atribuído pelos governantes ao enriquecimento próprio.

          O objetivo de "Notoriedade" é um pouco mais complexo, mas em suma, ele diz respeito à satisfação que o governante tem em ser reconhecido como um grande estadista ou policy maker.  Dentro desta categoria o que importa é a importância  que o governante dá aos adjetivos que lhes são atribuídos pela mídia, pelo povo e a expectativa que ele tem sobre como a história registrará sua passagem.

           O terceiro item foi difícil conseguir a concordância da maioria para incluí-lo.  Mas, enfim, embora não seja fácil acreditar, algumas pessoas se satisfazem em fazer o bem ao próximo.  Certamente, como um chato fez questão de deixar registrado, em muitos casos o altruísmo é apenas um meio para se atingir a notoriedade, contudo,  ao menos pela paz de espírito entre os estudiosos, decidiram concordar que é possível haver alguém cujo prazer está em simplesmente praticar o bem.

            Tendo conseguido determinar os leitmotifs dos políticos a tarefa agora era analisa-los em face das medidas tomadas por cada governo . A partir daí ficaria fácil determinar qual a função de satisfação dos políticos.

            A primeira observação, para alegria do economista chato, é que raramente se encontrou altruísmo nas medidas.  Após três meses de discussão, a frase mais proferida pelo tal chato era: "Eu avisei!".

              A segunda observação dos analistas das lendas e dos supostos registros arqueológicos de Saint of Paul Oco era que, para se alcançar a notoriedade não eram necessárias medidas efetivas mas, apenas uma boa manipulação dos escribas, responsáveis pelos registros históricos e pela divulgação dos atos de governo.   Assim, uma pequena esmola podia ganhar vulto e parecer a solução eterna dos problemas da pobreza.    

               Um cientista político, que faz parte dos debates, ressaltou que, mesmo que a única coisa que dê satisfação ao governante seja o próprio enriquecimento era precisava da notoriedade para conseguir se manter no poder!    Enfim, os objetivos de notoriedade e enriquecimento não eram excludentes e sim complementares.   

                As coisas começaram a ficar claras.  Os políticos sempre vão precisar de notoriedade.  E, como todos, sempre querem ficar mais ricos.  Então, para determinar a função de satisfação dos políticos ficou fácil: bastava ver os custos das medidas que davam notoriedade versus todas as outras.

                 Em poucas horas, percebeu-se que as políticas de cotas, lei úmida (em Saint of Paul Oco, a lei que proibia bebidas alcoolicas era chamada de Lei Úmida já que nada era seco numa terra que havia chafurdado na m...), reurbanização de áreas invadidas, etc., serviam apenas para o objetivo da notoriedade e que o custo delas era mínimo. Por outro lado, a análise das medidas realmente importantes, sempre direcionadas à um grupo/setor ou outro, e não a população em geral (apesar do estardalhaço dos escribas que faziam questão de registrar o oposto) só poderiam servir ao primeiro objetivo: ENRIQUECIMENTO.


                Enfim, os estudiosos pareciam começar a compreender o que levou a lendária Saint of Paul Oco a desaparecer, afundando para sempre na M...

              Ainda bem, que Saint of Paul Oco e só uma lenda.  E, eu, sou muito feliz por viver no Brasil, onde estas hipóteses são impensáveis !!!


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os Agentes Econômicos e Suas Escolhas: um pouco de teoria à guiza de introdução ao próximo post.

      Quando estudamos economia passamos grande parte do tempo tentando entender como as pessoas fazem suas escolhas.   Embora já existam críticas contundentes à hipótese de que os agentes são racionais, não há dúvidas de que - salvo alguns malucos irrelevantes - que as pessoas buscam maximizar seu bem-estar.

          A maximização do bem-estar envolve - como já abordado aqui muitas vezes - um trade-off entre preço e satisfação.  As pessoas vão sempre preferir o que lhes dá mais satisfação ao menor preço. Como geralmente as coisas que mais satisfazem são as mais caras o dilema imposto é quanto a pessoa está disposta a gastar a mais pelo aumento da satisfação.  

             A escolha de vinhos nos dá um bom exemplo de como as escolhas ocorrem.   Ao entrarmos numa adega, encontramos diversos vinhos aos mais diversos preços.  Possivelmente, o melhor vinho custará mais de R$ 1000,00 e o pior ao redor de R$ 10,00.  A maioria das pessoas possivelmente vai preferir um vinho entre R$ 50 e R$ 100, devido ao orçamento e a qualidade do vinho. Eventualmente, para uma ocasião especial a pessoa pode dispor-se a gastar mais.  Em outras situações, tal como quando alguém quer fazer vinho quente ou sangria, possivelmente a escolha será por um mais barato.  Mas, sempre a escolha envolverá o preço e uma opinião sobre a satisfação que o vinho trará.
         
           Economistas ranzinzas vão tentar encontrar provas de irracionalidade, pois perceberão que algumas pessoas não teriam o escolhido o "melhor" vinho dado certo preço.   Embora isto realmente aconteça, o fato é que gosto não se discute e que também há um processo de aprendizado nas escolhas e este fato não invalida o contexto teórico, de forma suficiente.    

           Economistas mais radicais pressupõem um total egoísmo dos agentes acreditando que eles fazem suas escolhas independentemente dos impactos que causem nas outras pessoas.

             Economistas estudiosos sabem que altruísmo também traz satisfação e que portanto, o que as vezes parece irracional, não o é.

              Neste contexto - da teoria econômica - as pessoas em geral nunca tomam decisões ruins, já que de forma altruística ou egoísta sempre estão tentando fazer o que mais lhes satisfaz.

               Infelizmente, muitas vezes a satisfação de um causa prejuízo a outrem.  Para isso, foram criadas as leis e instituições: para garantir que a sociedade não seja "prejudicada" pelo egoísmo.

              O problema é que o governo é formado por pessoas, elas mesmas egoístas.  Então, ao invés do governo fazer escolhas em pró da sociedade as escolhas são determinadas pela satisfação pessoal dos governantes.  Daí que para entender como um governo "opera" é preciso entender a função de satisfação de seus membros (os indivíduos que o compõem).  Quando penso nisso fico assustado !!